06 março 2006

Testamento

Bom, uma vez que nunca sabemos quando vamos morrer, nunca é tarde demais, nem cedo, para se escrever um testamento. Nunca se sabe quando o mundo vai acabar e já temos, pelo menos o Velho Testamento e o Novo Testamento. Para aqueles que possam ficar preocupados, desde já deixo bem claro que não estou pensando em me matar não; não agora pelo menos. Aliás, não estou muito certo do que seja morrer, uma vez que estamos rodeados de tantos mortos vivos e de tantos vivos mortos.

Deixando o blá-blá-blá um pouco de lado, vamos ao Testamento.

No que diz respeito aos meus "bens", deixo-os à disposição de quem estiver afim de brigar por eles, poucos que são... na verdade, eu deveria ocupar-me de desfazer deles em tempo hábil para uma morte tranqüila, desonerando a família deste trâmite penoso, mas o serviço de agendamento ainda não está disponível.

A parte mais importante vem agora: quero ser cremado. Nada de me trancafiarem dentro dum caixão e me soterrarem terra abaixo. Que todos os órgãos saudáveis sejam retirados, e se possível, doados para alguém que precise. Quanto ao destino das cinzas, poderiam ser espalhados por algum jardim, pelo mar, pelas montanhas, sei lá... só não gostaria de ficar confinado numa urna, nada de cemitério portátil. Aliás, tive uma idéia bem original: as minhas cinzas poderiam ser misturadas com tinta, usada na pintura de um sumiê. Mais interessante ainda se eu fosse incorporado por um médium e eu mesmo fizesse a arte.

É como disse Lavoisier:
"Nada se cria
Nada se perde
Tudo se transforma."