02 abril 2007

Mãos divinas

Kono sekai ni wa, hito no unmei o tsukasadoru nan da ka na chouetsuteki na ritsu, kami no te ga sonzai suru no darou ka ? Sukunaku tomo hito wa mizukara no ishi sae jiyuu ni wa dekinai.

- Berserk

Como explicar o inexplicável? O rabino Henry Sobel que o diga (notícia). Talvez não seja difícil explicar; mas sim admitir que não temos mais do que uma ilusão de controle sobre nossas vidas. Quiçá não passamos de meros títeres manipulados por mãos divinas.

É claro que algo assim não pode ser admitido pela sociedade, sob risco de estabelecer um estado de desordem geral: qualquer um que cometesse um crime, se desviasse da conduta esperada pelo grupo, poderia simplesmente alegar que o fez por motivo alheio à sua vontade, sob comando de uma entidade "maior".

Uma outra forma de explicar o inexplicável seria imputar a culpa aos monstros que mantemos aprisionados nos porões de nossas mentes, aguardando um enfraquecimento de "nossas verdadeiras personalidades" para se manifestarem. Dessa forma, o indivíduo poderia ser culpado, por não manter sob controle os impulsos que causaram o comportamento perverso.

De toda forma, o que me parece claro é a necessidade de se admitir humildemente a falta de controle que temos sobre nossas vidas, tramas formadas por fios de virtude e fortuna (sorte, destino). E também estabelecer duas categorias importantes sobre as quais tentamos exercer o controle: pensamento e ação.

Embora em um nível mais abrangente o controle seja apenas uma ilusão, quando nos voltamos para nosso microcosmo individual, percebemos que dispomos de alguns mecanismos mais ou menos precários para minimizar o poder das "mãos divinas" sobre nós.

Primeiro: não há como estabelecer um controle sobre os pensamentos e sentimentos que tomam nossas cabeças e corações. Podemos porém, iluminá-los, trazendo-os até nossa consciência, transformando-os em palavras, verbalizando; evitando que se percam nos porões de nossas mentes.

Segundo: se nos ocupamos em conhecer nossos pensamentos e emoções, ao invés de gastarmos energia para exilar os sentimentos desagradáveis, podemos tentar, com mais chance de sucesso, controlar nossas ações.

E se há algum controle que possamos exercer, este só é possível através do desenvolvimento de nossas virtudes. Virtudes que se expressam através de nossos hábitos, por mais simples que sejam. Se a virtude se tornar um hábito, ela se tornará parte de nós. Talvez o único território em que possamos de fato ter controle sobre nós mesmos.