12 janeiro 2009

As belas que me perdoem

A máxima do poeta e o corolário

Diz-se que o nosso querido poeta Vinícius de Moraes teria afirmado que as feias que me perdoem, mas beleza é fundamental.
Longe de mim querer discordar do poeta, tampouco querer arranjar uma briga com as feministas, mas apenas quero desenvolver seu raciocínio.
Contemplando a beleza feminina, o corolário a que cheguei, porém, creio eu, não será muito apreciado pelas beldades, quero dizer, as belas que me perdoem, mas beleza não é distintivo.
Vejamos:
. se beleza é fundamental, significa que é algo necessário, um pré-requisito;
. sendo um pré-requisito, todas aquelas que o atendem, integram um mesmo grupo - o grupo das belas;
. portanto, supondo que o atendimento do pré-requisito não é mutuamente excludente, isto é, uma se tornar bela não fará a outra feia, isso significa que, em certa medida, entre as belas não há distinção - ou seja, chega um ponto em que a beleza não faz diferença.
Quer dizer, num mundo em que a beleza física também virou mercadoria, o dom da beleza natural ficou um pouco ofuscado - embora muitos ainda a apreciem. De fato, há quem diga que não há mulher feia, existe mulher pobre. Talvez haja um fundo de razão nisso.

Padrões de beleza
Essa teoria, contudo, tem limitações. De fato, o que se considera belo numa época muito frequentemente não se considera mais noutra. E esse fato é tanto mais preocupante para as beldades: se o padrão vigente é o da beleza anoréxica, correm à dieta todas aquelas que não nasceram com essa predisposição à magreza; se a moda é possuir seios volumosos, sãos os cirurgiões plásticos que fazem a festa com os implantes de silicone; se é bonito ter os cabelos lisos escorridos, é a vez das chapinhas, escovas definitivas, etc; e assim por diante. O curioso é que, quanto maior a adesão a determinado padrão, a tendência é de, no limite, esgotá-lo e, involuntariamente, tornar dignas de adoração aquelas que se mantiveram distantes deste padrão! Traduzindo: quanto mais bonitas são as belas, menos bonitas elas são... rsrsrsrs

Mas Don Juan vê além
Continuando essa discussão sobre a beleza da mulher, lembro-me de uma passagem do filme Don Juan de Marco, em que o protagonista faz uma interessantíssima proposição: todas as mulheres são belas - e ele se diz capaz de enxergar a beleza que cada uma possui.
De fato, é uma grande saída. E tendo a concordar com ele. Muito embora muitas vezes seja difícil se livrar da forma de ver imputada pelos padrões de beleza vigentes. Padrões que ditam não só o que é bonito, mas como é bonito, quando é bonito, porque é bonito e com o que é bonito. Mas não posso deixar de admirar essa maneira de ver o mundo - e as mulheres. Quem nunca se encantou com uma garota por causa do seu sorriso gentil, ou por causa da sua voz, ou do seu jeito de falar, embora não fosse exatamente uma ninfa?
Como disse antes, talvez seja difícil nos livrarmo-nos dos imperativos e preconceitos dos padrões de beleza e nossa atenção, predominantemente visual, tende a se voltar para aquelas que possuem uma beleza física mais reluzente. E nós, homens, tornamo-nos presas fáceis da paixão. Paixão, que muitas vezes se mostra equivocada e aquela beleza reluzente, apenas disfarce para um vazio. Às vezes, para enxergar a verdadeira beleza, deveríamos fechar os olhos.

Bondade, beleza e verdade
Porque apenas os olhos não são capazes de enxergar a verdadeira beleza: a bondade. Pois, tanto beleza quanto bondade, constituem uma mesma virtude - portanto, o que é bom não precisa deixar de ser belo, e vice-versa. Não acham essa uma bela reflexão? Porém, a beleza que seduz os olhos, talvez não seja capaz de fazer tão bem quanto outras formas pelas quais a beleza se manifesta - e certamente não é capaz de durar tanto tempo quanto.

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