10 agosto 2008

Sobre a felicidade

A grande mudança

Depois de ler o romance Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, minha visão sobre a felicidade estava destinada a nunca mais ser a mesma. A busca da felicidade, o que eu admitia como natural e, sobretudo, universal para o ser humano adquiriu uma feição diferente para mim: passei a vê-la como mais uma tentativa de fuga, mais uma busca de signficado para tentar sustentar a nossa efêmera existência. A felicidade, qual seja um estado de satisfação que se experimenta em vida, poderia ser considerada como um estado permanente na situação hipotética do Admirável Mundo Novo: todos os indivíduos tinham seu lugar bem definido no mundo social - e estavam desde antes do nascimento condicionados a gostar desse lugar -; não havia qualquer obrigação conjugal, mas o comportamento esperado era o da troca constante de parceiros sexuais - a grande obscenidade era falar de mães -; existiam métodos eficientes de retardar o envelhecimento e todos, a princípio, sabiam do seu "prazo de validade", isto é, sabiam quando iam morrer - e sabiam que não morreriam "velhos". Quanto mais essa situação hipotética ganhava feições realizáveis, partindo da observação do mundo à nossa volta; tanto mais se modificou a minha visão sobre a felicidade; e eu que tinha como certo que também empreendia a busca pela felicidade, me detive, pensei bem, e achei por bem parar por ali mesmo. Refiz meu projeto, e decidi partir em busca da verdade, seja qual ela fosse...


Contra a busca da felicidade

Em momento algum, contudo, quis me abster da felicidade. O que ocorreu foi uma mudança de foco. A felicidade deixou de ser um objetivo a ser alcançado. A grande descoberta foi que fora do caminho na busca pela verdade eu não poderia ser atingido pela felicidade, isto é, por uma felicidade plena - não se trata de mera alegria ou satisfação de um prazer efêmero. Ou seja, a felicidade deixou seu posto de finalidade para ocupar o espaço de um "efeito colateral", sem que seja desmerecida por isso. Sempre que encontro uma resposta, ou que sou capaz de formular uma pergunta interessante, sou capaz de sorrir para mim mesmo e sentir se manifestar a felicidade.
Desse modo, passei a me opor à busca da felicidade. Após a leitura do Admirável Mundo Novo, comecei a considerar essa busca um empreendimento sem valor, à medida em que os avanços científicos e tecnológicos com os quais temos sido brindados parecem nos conduzir a uma situação semelhante àquela felicidade baseada na completa alienação retratada no romance (se aquilo é ser feliz, prefiro ser infeliz com certeza).
Além disso, uma outra hipótese que eu passei a considerar é a de que a busca da felicidade cria um condicionamento para realizar essa procura, sempre se voltando para outro lugar: a conseqüência imediata é que, ao se tornarem escravas da busca da felicidade, as pessoas tornam-se incapazes de vivenciar a felicidade! Porque quando a sorte lhes sorri e felicidade bate às suas portas, fica sempre a sensação de que algo está errado - o tal medo de ser feliz. Nessa minha hipótese, medo de ser feliz nada mais é do que incapacidade de perceber a felicidade, já que esta é uma meta, um objeto de busca, que não deve ser alcançado enquanto estamos vivos, isto é, enquanto não terminamos de percorrer o nosso caminho.

Não sei se existe algum fundo de verdade nisso tudo que eu escrevi, mas, por achar que descobri uma pista na busca pela verdade, de alguma forma, me sinto feliz.

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