17 janeiro 2009

Chuva de verão

Um haicai em homenagem a esses dias chuvosos - principalmente no fim de semana.

Chuva de verão
parece uma canção d'água
caindo chão

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15 janeiro 2009

Cirurgia gramática para redução do ego

Que vivemos num mundo extremamente individualista, isso ninguém pode negar. Agora, daí a afirmar que as mazelas da nossa modernidade são fruto do individualismo, isso é questionável. A mim parece muito mais razoável imputar a responsabilidade pelo mal-estar social que vivemos ao egoísmo. O psicoterapeuta Dr. Flávio Gikovate - que apresenta o programa No divã do Gikovate, da CBN - distingue o individualismo do egoísmo da seguinte forma: o primeiro é uma postura em que o indivíduo age por si próprio, para si mesmo, sem prejuízo ou benefício dos demais; o último seria a postura igualmente voltada para si, porém, na qual o indivíduo não respeita os limites dos outros, fazendo-os agir conforme seus próprios interesses. A partir dessa distinção, me parece mais clara a natureza daninha do egoísmo, e mais inofensiva do invidualismo.

Com efeito, o individualismo que conhecemos remonta ao pensamento de John Locke, assim como de Jean-Jacques Rousseau. Para Locke, a esfera individual - a vida, propriedade e liberdade individuais - era fundamental, não podendo ser suplantada por qualquer tipo poder exterior, inclusive pelo poder do Estado. É de se destacar a íntima relação entre indivíduo e liberdade, estando a liberdade de cada indivíduo limitada à integridade do outro indivíduo - valor de inestimável importância para a Revolução Francesa e para a Independência das Colônias Americanas. Quanto ao pensamento rousseauniano é interessante notar sua concepção do bom selvagem, do ser humano num estado puro de natureza, no qual os homens, tais quais os outros animais, viviam dispersos uns dos outros e buscavam sua própria preservação, com o menor prejuízo da natureza da qual faziam parte.

Não obstante uma postura ensimesmada possa significar falta de coesão social, falta de mobilização política, falta de projetos comuns; se cada homem vivesse sua própria vida de modo a causar o menor prejuízo possível a outrem, talvez vivéssemos num mundo menos intransigente. Contudo, dada a complexa teia de relações sociais - sobretudo de produção econômica - que envolvem todos nós, é impossível que qualquer simples ação nossa não tenha um reflexo sobre outra pessoa - e muitas vezes, um reflexo negativo. Penso, assim, que todo individualismo é um pouco egoísta.

Portanto, visando a construir uma sociedade onde se possa viver melhor, acredito que é preciso mudar: transformar as relações sociais, assim como os indivíduos. Um primeiro passo, penso eu, seria murchar os egos inflados, de modo que todo egoísmo se torne mero individualismo.

Egos espaçosos
Penso que cada um de nós conhece um punhado de pessoas que acham que o centro de gravidade do universo está em seus umbigos; que acham que o mundo deveria sempre abrir-lhe passagem quando passam; que todas as pessoas devem estar de prontidão para atender seus desejos mais intempestivos; que acreditam ser as portadoras da verdade. Talvez bastasse lembrar do quanto nós humanos somos minúsculos diante desse infindável universo! Ou, quem sabe, do quão estreito é o nosso conhecimento diante de tudo quanto se descobriu debaixo do Sol.

Bom, mas de toda forma, podemos começar por nós mesmos! Sim, talvez não sejamos capazes de perceber o quanto às vezes nos tornamos espaçosos.

As coisas no seu devido lugar
Queiramos ou não, gostemos ou não, a vida se nos apresenta numa perspectiva em primeira pessoa. Portanto, parece contraditório, mas a primeira providência para reduzir os egos inflados é dizer as coisas que partem da nossa visão particular na primeira pessoa. Realizando esse exercício, talvez fiquemos assustados em ver quanto o mundo pode ser sentido de maneiras diferentes - e que nossa visão é apenas mais uma, mas graças à qual juntamente com todas as outras, temos uma riqueza inestimável: a diversidade.

Por exemplo, se digo maçã é azeda, a impressão para quem me ouve é de que, antes de ser a expressão de uma simples opinião, estou decretando que todas as maçãs são azedas. Não que eu tenha autoridade para fazê-lo, ou que outra pessoa não tenha direito de discordar, mas numa sentença tão aberta eu acabei invadindo o espaço da outra pessoa divergir em sua opinião - assim como não permiti que outra maçã não fosse azeda. Desse modo, seria preferível que eu colocasse as coisas no seu devido lugar, enunciando: eu acho que esta maçã é azeda. Bem melhor, não? Agora as pessoas têm o direito de achar o que bem entenderem, sem maiores constrangimentos, e as outras maçãs podem ser doces. Mas ainda posso melhorar. Que tal: eu acho que esta maçã está azeda hoje. Pronto, agora a maçã pode amadurecer e tornar-se doce quando estiver "no ponto".

O simples exemplo acima ilustra como uma pequena mudança na maneira pela qual enunciamos nossas sentenças muda tudo. Nossa falta de cuidado com nosso modo de falar, sem que seja perceptível, acaba causando animosidades entre as pessoas. Na minha opinião, uma palavra muda tudo. Por isso, a falta de cuidado pode fazer com que uma sentença extrapole a competência do seu emissor (sua própria primeira pessoa), assim como se extenda a outros objetos além daquele sobre o qual se disse algo, e ainda adquira uma dimensão temporal que vai à eternidade.

Essa maneira de falar, autológica e microscópica, eu fiquei conhecendo num livro chamado Loganálise - A Nova Conversa, do Dr. Luis César Ebraico (vale a pena visitar o blog). Num mundo tão tomado pelo egoísmo, essa já seria uma boa cirurgia gramática para redução do ego.

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13 janeiro 2009

Hábitos de higiene

Olha só um e-mail que eu recebi sobre costumes que o pessoal tinha lá pelos anos de 1600-1700. Pessoal limpim...



Ao se visitar o Palácio de Versailles, em Paris, observa-se que o suntuoso palácio não tem banheiros.

Na Idade Média, não existiam escovas de dente, perfumes, desodorantes, muito menos papel higiênico.

As excrescências humanas eram despejadas pelas janelas do palácio.

Em dia de festa, a cozinha do palácio conseguia preparar banquete para 1.500 pessoas, sem a mínima higiene.

Vemos nos filmes de hoje as pessoas sendo abanadas. A explicação não está no calor, mas no mau cheiro que exalavam por debaixo das saias (que eram propositalmente feitas para conter o odor das partes íntimas, já que não havia higiene).

Também não havia o costume de se tomar banho devido ao frio e à quase inexistência de água encanada. O mau cheiro era dissipado pelo abanador.
Só os nobres tinham lacaios para abaná-los, para dissipar o mau cheiro que o corpo e boca exalavam, além de também espantar os insetos.

Quem já esteve em Versalies admirou muito os jardins enormes e belos que, na época, não eram só contemplados, mas "usados" como vaso sanitário nas famosas baladas promovidas pela monarquia, porque não existia banheiro.

Na Idade Média, a maioria dos casamentos ocorria no mês de junho (para eles, o início do verão).

A razão é simples: o primeiro banho do ano era tomado em maio; assim, em junho, o cheiro das pessoas ainda era tolerável. Entretanto, como alguns Odores já começavam a incomodar, as noivas carregavam buquês de flores, junto ao corpo, para disfarçar o mau cheiro. Daí termos "maio" como o "mês das noivas" e a explicação da origem do buquê de noiva.

Os banhos eram tomados numa única tina, enorme, cheia de água quente. O chefe da família tinha o privilégio do primeiro banho na água limpa.

Depois, sem trocar a água, vinham os outros homens da casa, por ordem de idade, as mulheres, também por idade e, por fim, as crianças. Os bebês eram os últimos a tomar banho.

Quando chegava a vez deles, a água da tina já estava tão suja que era possível "perder" um bebê lá dentro.

É por isso que existe a expressão em inglês "don't throw the baby out with the bath water", ou seja, literalmente "não jogue o bebê fora junto com a água do banho", que hoje usamos para os mais apressadinhos.

Os telhados das casas não tinham forro e as vigas de madeira que os sustentavam era o melhor lugar para os animais - cães, gatos, ratos e besouros se aquecerem.

Quando chovia, as goteiras forçavam os animais a pularem para o chão. Assim, a nossa expressão "está chovendo canivete" tem o seu equivalente em inglês em "it's raining cats and dogs" (está chovendo gatos e cachorros).

Aqueles que tinham dinheiro possuíam pratos de estanho. Certos tipos de alimento oxidavam o material, fazendo com que muita gente morresse envenenada.

Lembremo-nos de que os hábitos higiênicos, da época, eram péssimos. Os tomates, sendo ácidos, foram considerados, durante muito Tempo, venenosos.

Os copos de estanho eram usados para cerveja ou uísque. Essa combinação, às vezes, deixava o indivíduo "no chão" (numa espécie de narcolepsia induzida pela mistura da bebida alcoólica com óxido de estanho).

Alguém que passasse pela rua poderia pensar que ele estivesse morto, portanto recolhia o corpo e preparava o enterro. O corpo era então colocado sobre a mesa da cozinha por alguns dias e a família ficava em volta, em vigília, comendo, bebendo e esperando para ver se o morto acordava ou não. Daí surgiu o velório, que é a vigília junto ao caixão.

A Inglaterra é um país pequeno, onde nem sempre havia espaço para se enterrarem todos os mortos. Então os caixões eram abertos, os ossos retirados, postos em ossários, e o túmulo utilizado para outro cadáver.


As vezes, ao abrirem os caixões, percebia-se que havia arranhões nas tampas, Do lado de dentro, o que indicava que aquele morto, na verdade, tinha sido enterrado vivo.


Assim, surgiu a idéia de, ao se fechar o caixão, amarrar uma tira no pulso do defunto, passá-la por um buraco feito no caixão e amarrá-la a um sino. Após o enterro, alguém ficava de plantão ao lado do túmulo, durante uns dias. Se o indivíduo acordasse, o movimento de seu braço faria o sino tocar. E ele seria "saved by the bell", ou "salvo pelo gongo", expressão usada por nós até os dias de hoje.

VIVENDO E APRENDENDO...

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12 janeiro 2009

As belas que me perdoem

A máxima do poeta e o corolário

Diz-se que o nosso querido poeta Vinícius de Moraes teria afirmado que as feias que me perdoem, mas beleza é fundamental.
Longe de mim querer discordar do poeta, tampouco querer arranjar uma briga com as feministas, mas apenas quero desenvolver seu raciocínio.
Contemplando a beleza feminina, o corolário a que cheguei, porém, creio eu, não será muito apreciado pelas beldades, quero dizer, as belas que me perdoem, mas beleza não é distintivo.
Vejamos:
. se beleza é fundamental, significa que é algo necessário, um pré-requisito;
. sendo um pré-requisito, todas aquelas que o atendem, integram um mesmo grupo - o grupo das belas;
. portanto, supondo que o atendimento do pré-requisito não é mutuamente excludente, isto é, uma se tornar bela não fará a outra feia, isso significa que, em certa medida, entre as belas não há distinção - ou seja, chega um ponto em que a beleza não faz diferença.
Quer dizer, num mundo em que a beleza física também virou mercadoria, o dom da beleza natural ficou um pouco ofuscado - embora muitos ainda a apreciem. De fato, há quem diga que não há mulher feia, existe mulher pobre. Talvez haja um fundo de razão nisso.

Padrões de beleza
Essa teoria, contudo, tem limitações. De fato, o que se considera belo numa época muito frequentemente não se considera mais noutra. E esse fato é tanto mais preocupante para as beldades: se o padrão vigente é o da beleza anoréxica, correm à dieta todas aquelas que não nasceram com essa predisposição à magreza; se a moda é possuir seios volumosos, sãos os cirurgiões plásticos que fazem a festa com os implantes de silicone; se é bonito ter os cabelos lisos escorridos, é a vez das chapinhas, escovas definitivas, etc; e assim por diante. O curioso é que, quanto maior a adesão a determinado padrão, a tendência é de, no limite, esgotá-lo e, involuntariamente, tornar dignas de adoração aquelas que se mantiveram distantes deste padrão! Traduzindo: quanto mais bonitas são as belas, menos bonitas elas são... rsrsrsrs

Mas Don Juan vê além
Continuando essa discussão sobre a beleza da mulher, lembro-me de uma passagem do filme Don Juan de Marco, em que o protagonista faz uma interessantíssima proposição: todas as mulheres são belas - e ele se diz capaz de enxergar a beleza que cada uma possui.
De fato, é uma grande saída. E tendo a concordar com ele. Muito embora muitas vezes seja difícil se livrar da forma de ver imputada pelos padrões de beleza vigentes. Padrões que ditam não só o que é bonito, mas como é bonito, quando é bonito, porque é bonito e com o que é bonito. Mas não posso deixar de admirar essa maneira de ver o mundo - e as mulheres. Quem nunca se encantou com uma garota por causa do seu sorriso gentil, ou por causa da sua voz, ou do seu jeito de falar, embora não fosse exatamente uma ninfa?
Como disse antes, talvez seja difícil nos livrarmo-nos dos imperativos e preconceitos dos padrões de beleza e nossa atenção, predominantemente visual, tende a se voltar para aquelas que possuem uma beleza física mais reluzente. E nós, homens, tornamo-nos presas fáceis da paixão. Paixão, que muitas vezes se mostra equivocada e aquela beleza reluzente, apenas disfarce para um vazio. Às vezes, para enxergar a verdadeira beleza, deveríamos fechar os olhos.

Bondade, beleza e verdade
Porque apenas os olhos não são capazes de enxergar a verdadeira beleza: a bondade. Pois, tanto beleza quanto bondade, constituem uma mesma virtude - portanto, o que é bom não precisa deixar de ser belo, e vice-versa. Não acham essa uma bela reflexão? Porém, a beleza que seduz os olhos, talvez não seja capaz de fazer tão bem quanto outras formas pelas quais a beleza se manifesta - e certamente não é capaz de durar tanto tempo quanto.

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Que progresso nós queremos?

Penso que em poucas oportunidades nos deparamos tão frontalmente com essa questão. De fato, se tomarmos como progresso os avanços técnico-científicos obtidos, mensurados pelo consumo per capita de energia - isto é, a concepção moderna e ocidental de progresso -, nunca a humanidade progrediu tanto quanto no século passado. Pode-se dizer que o século XX foi o palco de mais descobertas do que em toda história precedente. Seja no campo dos transportes, com os automóveis e aeronaves; seja no campo das telecomunicações, com o "advento" da comunicação em massa, através do rádio e da TV; seja no campo da medicina, com a descoberta de medicamentos e de mecanismos biológicos; enfim, em todo canto em que pode se esconder uma ciência, é possível apontar um tipo de progresso - sobretudo nas ciências ditas naturais.

Contudo, de todo esse progresso, neste início de século XXI, não herdamos uma condição das mais amenas. Todas essas maravilhas da civilização também tem um ônus, que se nos revela a cada dia: as mudanças climáticas provocadas no planeta e suas consequentes catástrofes naturais; as pilhas de lixo que se acumulam nas periferias dos centros urbanos e até mesmo em regiões dos oceanos; e muitas outras atrocidades cometidas contra a natureza, que se volta contra esses maus tratos sofridos pela humanidade. E pior: além da agressão ao meio ambiente, não podem ser esquecidos os crimes cometidos contra a própria humanidade, como o holocausto, a bomba atômica, os conflitos étnicos nos Bálcãs e na África, só para citar algumas manchas de sangue na História.

Pois bem, além de desenvolver as condições objetivas para a destruição real de toda a humanidade numa hecatombe nuclear, o homem também foi capaz de deteriorar sua vida comunitária à medida em que a passou a habitar predominantemente centros urbanos; a produção foi submetida à lógica de mercado; as pessoas passaram a ver as outras não como semelhantes, mas como concorrentes - seja por trabalho, atenção, sucesso, etc. Ou seja, dependendo de como se olha o progresso, podemos arriscar dizer que na verdade, temos vivido um grande retrocesso nos últimos tempos.

O que me parece, na verdade, é que o capitalismo, a partir de um determinado ponto, tornou-se incapaz de fornecer o instrumental para um progresso com base humanista - e não mercadológica. O progresso que o capitalismo engendrou, para mim, lembra a figura de um homem elegantemente trajando seu smoking, sua cartola, mas, ao invés da calça, vestindo ceroulas e de pés no chão. Ou talvez uma casa enorme, de uma construção de madeira rústica, contrastando com alguns vitrais na parede, o piso de chão batido todo enlameado, distoando dos lustres de cristal. Ou seja, o progresso do século XX nos legou um mundo de desigualdades gritantes, inadimissíveis. Chega a parecer ridículo falar sobre o desenvolvimento de vacinas contra o câncer enquanto milhões morrem de febre amarela; sobre a criação do gado na cidade japonesa de Kobe, em que os bois tomam cerveja e escutam música clássica, ao passo que a fome assola continentes; falar dos empreendimentos imobiliários que envolvem cifras estratosféricas, enquanto o saneamento básico ainda é um privilégio para poucos. Espero que um dia a humanidade seja capaz de se dar conta desse sentido ridículo que o progresso assumiu, e seja capaz de repensar que tipo de progresso queremos.

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08 janeiro 2009

O Paraíso da Infância

Hoje, numa pausa para o almoço, me deparei com uma reflexão. Extenuado pelo trabalho, me perguntei por que eu sentia a labuta como um castigo. De imediato, lembrei do livro do Gênesis, da passagem em que Adão e Eva são expulsos do Jardim do Éden:

E a Adão disse: Porquanto deste ouvidos à voz de tua mulher, e comeste da árvore de que te ordenei, dizendo: Não comerás dela: maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias da tua vida. [...] No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado: porquanto és pó, em pó te tornarás.
(Gn 3:17,19)


Naquele momento, percebi a semelhança entre o enredo biblíco e o destino manifesto na nossa sociedade contemporânea. Todos nós somos criados para um certo dia deixar o paraíso de nossas infâncias e nos confrontarmos com o mundo real, no qual, nosso sustento depende inevitavelmente de algum tipo de trabalho. Trabalho que, em nossos dias atuais, assume um caráter cada vez mais específico, em decorrência de uma extrema divisão do trabalho. O resultado evidente disso é que aumenta sobremaneira a nossa interdependência e, para satisfazermos qualquer necessidade que esteja fora do escopo do nosso trabalho, temos que acessar o produto/serviço necessário para essa satisfação através de uma relação mercadológica. Ou seja, tornamo-nos incapazes de fazer qualquer coisa por nós mesmos - exceto aquilo que é objeto do nosso trabalho -, ao mesmo tempo em que potencialmente temos acesso a qualquer coisa através do mercado. Em outras palavras, nosso trabalho torna-se cada vez mais estranho a nós mesmos, assim como o fruto desse trabalho. Como resultado, a sentença divina torna-se cada vez mais pesada. Ainda que em escritórios climatizados, realizando um trabalho não-braçal, todas essas comodidades não aliviam o peso desse jugo em que o trabalho se transformou na modernidade.

Apesar de, pelo nosso mundo afora, muitas crianças serem privadas de desfrutar um mínimo de sua infância, me parece evidente que a concepção ideal, normativa, de como deve ser uma vida humana - pelo menos em nossa visão ocidental -, reserva um pequeno paraíso em nossas vidas. Paraíso da infância para o qual, assim como para o Jardim do Éden, não há caminho de volta em nossas trajetórias individuais, pelo menos não neste mundo, em que vivemos. Mas, quem sabe, um dia a humanidade toda volta a ser criança, e a terra, um paraíso.

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07 janeiro 2009

Gênios da matemática

Nem sempre os gênios da matemática são compreendidos pelas pessoas. Vejam só que injustiça!





Se você não é nerd, talvez não tenha achado graça... me desculpe!

06 janeiro 2009

Transtorno bipolar da bolsa

Houve um tempo em que os homens perdiam suas fortunas em jogos de azar e em corridas de cavalo. Hoje, muitos olham para essas tentativas de enriquecer com desdém, afinal, como poderia alguém com a cabeça no lugar achar que conseguiria quebrar a banca ou acertar sempre o azarão - se a vantagem natural fosse dos apostadores, simplesmente não haveria cassino, ou jóquei clube.

Nos nossos dias, a roleta gira em outro cassino. Muito embora existam centenas de teorias, de metodologias - análise gráfica, fundamentalista, etc. - que procuram dar uma racionalidade científica a todo esse capitalismo de cassino, parece que seria mais interessante recorrer à psicoterapia do que às análises econômicas para entender a dinâmica do mercado. Dias de euforia se seguem de dias de depressão. Basta ver o desempenho da Bovespa no ano passado: no mesmo ano em que o índice iBovespa quebrou um recorde histórico ao superar os 70.000 pontos, a bolsa apresentou a maior perda num ano desde 1972 (salvo engano).

Tudo bem, houve uma crise. Mas até a eclosão dessa crise, ninguém quis acreditar no seu poder destrutivo, ninguém quis deixar o estado de euforia. Quando apareceram os primeiros sinais da gravidade da crise, o mundo entra em depressão. Ninguém quer perder nada, o medo impera. Nada mais do que um comportamento humano, do cidadão médio do capitalismo mundial. E assim será, até que o mundo esteja entregue a essa jogatina, achando que está apoiado em seguras bases científicas. Pobre humanidade, que não enxerga o limite das suas ciências!

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05 janeiro 2009

Anoitecer no verão

Vento sopra as nuvens
O sol se perde no oeste
A lua aparece.

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A minha felicidade é o crediário das Casas Bahia

E não só a minha... mas também do Lula e obviamente do dono das Casas Bahia!
Em tempos de crise, recessão internacional, nada disso me impede de fazer um crediário. Desde que a prestação caiba no bolso! Já que é assim que pensa o povo brasileiro, quem vende a prestação faz a festa. Cobrando uns jurinhos inofensivos, de 4,5% ao mês -- ou seja, 70% ao ano!

É meu povo, veja bem o que tão fazendo com a gente!

Muito interessante que tudo isso não passa despercebido, mas tá virando notícia até no tal de Financial Times! Cê vê, tamo ficando importante! hahaha! Dá uma olhada aqui. Casas Bahia tá igual formigueiro, tem em todo o canto, até na favela. Agora, o que mais me orgulha é quando a reportagem diz: Wheatley diz que, na inauguração da filial, "centenas de pessoas na frente da loja dançam, pulam e abanam os braços como se não existisse amanhã".

E viva o capitalismo brasileiro!

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Idéia Fixa

Assim como todo mundo, começo o ano cheio de projetos. Atualmente, assim como o pobre Brás Cubas, de Machado de Assis, estou tomado por uma idéia fixa. E se ele pretendia conquistar fama pelos quatro cantos do mundo com o seu emplasto Brás Cubas, eu cá tive uma idéia que tem tudo pra dar certo.
Da mesma forma, trata-se de um produto farmacêutico, que, embora não seja tão poderoso como o aludido emplasto deveria ser, ainda assim deve ser muito útil às pessoas. Sim, trata-se de um projeto mais modesto: não pretendo aliviar a melancolia humana, mas libertar aqueles reféns da prisão... de ventre. Bem, é, isso mesmo... um purgante.
Mas, que mal há nisso. Muito pelo contrário, penso ajudar boa parte da humanidade com seus problemas gastrointestinais... ou você pensa que o intestino de todo mundo funciona que nem um reloginho?
Bom, o projeto está em fase adiantada, mas, para que você não fique roendo suas unhas de curiosidade, vou-lhe adiantando alguns detalhes:
. o produto chamar-se-á Purgante G. M., em homenagem a um ilustre personagem de nossa história recente.
. o slogan será algo do tipo: Intestino preso? Seus problemas acabaram! Purgante G. M., solta até 2 vezes em menos de 24 horas!
.
o garoto propaganda será um simpático senhor orelhudinho, de olhos azuis -- não, não é o garoto propaganda do Bombril!
Agora, que já lhe adiantei alguns detalhes, pacientemente espere o lançamento desse revolucionário produto. Aguarde!

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04 janeiro 2009

A estupidez da guerra

Inicia-se mais um ano, e nos deparamos novamente com um triste acontecimento: o conflito entre os israelenses e os palestinos na Faixa de Gaza.
Tal acontecimento abala as esperanças de dias melhores, que geralmente resgatamos nesta época do ano. Mais uma vez, pela estupidez de uns poucos, centenas de inocentes padecem! Até quando persistirá esta estupidez!?
Será que os líderes do Hamas não percebem que a resistência militar não libertará a Palestina, mas somente trará morte e sofrimento para o seu povo, já que seus opressores contam com uma máquina de guerra muitas vezes mais poderosa - além do apoio dos EUA? Contra um inimigo tão poderoso militar e politicamente no plano internacional, é evidente que a violência não é instrumento de libertação. É, antes, o pretexto ideal para as ações criminosas contra o povo palestino, comandadas pelas lideranças sionistas de Israel.
A única saída que vejo é uma revolução liderada pelo povo. O povo palestino contra as lideranças do Hamas; e o povo de Israel contra os líderes sionistas. Pois o povo é a principal vítima desse conflito, suas vidas é que são colocadas em jogo pela estupidez de uma meia dúzia de fanáticos.
Quero acreditar que essa guerra um dia chegue ao fim.

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Lixo eletrônico

Saudações! Eis aqui o mais novo integrante deste blog, o ilustre Sr. Kikuchiyo. Muito prazer.

Pois bem, gostaria de aproveitar este espaço pra desabafar... é... hoje, tomado pelo espírito da mudança, trazido pelo ano novo, resolvi aceitar um desafio: limpar a minha caixa postal de e-mail.
Como não usava sempre, achei que iam aparecer umas duas ou três mensagens... que nada!
Abri a caixa postal, e tava lá: mais de mil!!! uhuuu
No começo, cheio de boa vontade, eu ia abrindo as mensagens...
. Viagra e outros medicamentos com desconto - fala sério, acho que eu ainda não tô precisando disso...
. Cursos de graduação e pós graduação à distância - obrigado, mas falta tempo, dinheiro, disposição...
. Mil modelos de cartas comerciais - hahahah, isso me lembrou o curso de datilografia!
e por aí vai...
Uma hora depois, cansei... fala sério! Esse povo que manda spam não tem nada que fazer!? Pra piorar, hoje em dia os e-mails todos têm espaço quase ilimitado - ou seja, espaço pra ser invadido e transbordado com esse lixo eletrônico!
Bom, no fim das contas acho que consegui me livrar dessa praga, pelo menos por enquanto...

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Promessa de Ano Novo

Aproveitando que esta época é propícia para a assunção de promessas - uns prometem parar com o cigarro, com a bebida; outros, prometem emagrecer e ter uma vida mais saudável; ou quem sabe, conseguir um emprego novo - eu também resolvi fazer uma promessa: que em 2009 eu freqüente mais assiduamente este blog!

E este ano eu contarei com a colaboração de uma equipe para as postagens. Como eu tinha dito no post Big Bang, eu acabei me desdobrando e, assim, poderei postar sobre uma miríade de assuntos sem ter que me constranger por, eventualmente, me desviar da "linha editorial" a princípio estipulada para o blog. Vamos ver no que dá...

Não sei se vou conseguir cumprir minha promessa, mas já que é pra prometer... 2009 promete!